Páginas

Fragmentos



Quem define o homem? A filosofia, a religião e a ciência disputam séculos a fio essa atribuição. A religião manteve-se por muito tempo como a fonte da verdade e muitos beberam dela, mas suas águas ficaram com o gosto amargo da intolerância e do legalismo. A filosofia avançou, mas perdeu-se numa multiplicidade confusa de ideais desconexas. Por último, com a idolatria da razão, a ciência se autoproclamou como única via isenta para chegar a essa verdade, mas não foi capaz de responder aos anseios transcendentais do espírito humano. Com isso, o homem perdeu-se no mundo das ideias, sozinho e confuso, violentamente partido em razão, emoção e espiritualidade como se essas partes fossem irreconciliáveis.

Por isso, como um espelho partido, o homem espatifou-se no chão em mil pedaços, destruído e desprovido de propósito como jamais se viu na história da Humanidade. Uma face espelha seu anseio pelo transcendental e outra seu apego à matéria e o ceticismo do fascismo científico. Esse encontro de matizes acabou por criar uma imagem do homem que de forma alguma espelha seu caráter, sua natureza e muito menos é capaz de refletir o Criador que o criou precisamente com esse fim.

Então, esses estilhaços, remontados sobre essa base irregular, jamais poderão cumprir suas funções que se constituem o propósito, o caminho e a felicidade plena de todo homem: Espelhar seu Criador – quando voltada a face para habitação celestial no esplendor das perfeições de Deus o homem se posiciona de forma a refletir no mundo esse brilho intenso, as matizes dessa luz clarificam sua visão de si mesmo e, principalmente, do outro, cujo propósito também é espelhar outras imagens da glória Dele. Nesse encontro de imagens, espelho frente espelho, tudo reflete o Criador e Deus é tudo em todos. Ao se deparar com a própria imagem no outro, o ser humano é tomado de deleite, pois contempla a beleza do Criador em sua própria imagem.

Entretanto, nosso eu fragmentado distorce, recorta e tira de perspectiva esse quadro perfeito. Quando olhamos para os outros não vemos a luz de Deus e nos deparamos com nossa própria imagem nua e em pedaços, essa visão chocante desperta medo, ódio e solidão, pois nada faz sentido e não há beleza a ser admirada.

Por fim, a esperança não reside em consertos e reformas, mas em reconstrução total. Desconstruir-se por meio de um abandono de paradigmas e reconhecimento da única autoridade que repara o que nenhum homem ou ideologia ou instituição são capazes, a autoridade do logos do Criador, sua palavra, até que se completem os dias e a luz brilhe de uma vez por todas sem esvanecer-se em nuvens de incredulidade e dúvida, pois, finalmente, a esperança será concretizada, a fé encontrará seu objeto e triunfará o amor perfeito e completo, Criador e criatura, para sempre.

Read Users' Comments (0)

0 Response to "Fragmentos"